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Consind debate conjuntura nacional e internacional e enfrentamento da crise

A primeira mesa de debate do Consind, realizada dia 29, contou como expositores com o presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges; o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) e a deputada federal Érika Kokay (PT-DF).

Altamiro considerou que “existe um momento de tensão do mundo, com crise prolongada do sistema capitalista, mudanças profundas no perfil de classe, tanto da burguesia (rentista, sem estado nacional, interessada unicamente no lucro, na ditadura do capital financeiro) quanto do proletariado (com o surgimento de novas técnicas de produção, precarização do trabalho, difícil mobilização e organização em torno de seus interesses). A democracia representativa conquistada pelos trabalhadores está em crise; suas instituições, em crise, não expressa o que ocorre na sociedade”.

Para ele, “alternativas ao neoliberalismo trouxeram avanços, mas não se consolidaram e isso deixou um vazio. A Grécia foi devastada e se rebelou, elegeu um partido radical e não conseguiu se firmar. Na América Latina vários países foram vanguarda da resistência ao neoliberalismo através de eleições e seus governos começaram processos de mudanças que favoreceram o povo, mas todas as experiências realizadas estão sofrendo dificuldades – golpes, derrotas eleitorais. Não se consolidaram, mas existe luta, como no Brasil”.

Segundo o dirigente do Barão de Itararé, “o principal protagonista do golpe foi a mídia, que fortaleceu a bancada da arma e da religião, que triplicaram o número de seus deputados no Congresso, enquanto a de sindicalistas diminuiu. O papel do Judiciário na Lava Jato também foi fomentado pela mídia. Os golpistas estão destruindo a nação, todas as áreas da economia. Para isso, não é possível a democracia. Para isso, investem contra o movimento sindical. O golpe só se completa se impedir a retomada do desenvolvimento em novo patamar. Por isso a mídia e os golpistas querem inviabilizar a candidatura do Lula ou até as próprias eleições do próximo ano. Temos que apostar na luta, na mobilização, inclusive para garantir eleições em 2018. Trabalhar pela unidade e sua ampliação, explorando as contradições entre os adversários”.

Crise em toda a linha

Orlando Silva explanou sobre a crise “em toda a linha, vivida pelo Brasil. A economia está no atoleiro (neste ano, crescimento de 0,2% no Brasil, após 2 anos de recessão, enquanto o mundo cresce 2,5%). As iniciativas do governo não têm permitido retomada do crescimento, mesmo com a propaganda enganosa que as acompanha. O desemprego é a consequência trágica desse caminho adotado. Cresce o trabalho precário. Com essa orientação, não há perspectiva de retomada”.

“O Governo Temer tem produzido um desmonte do Estado que acaba com instrumentos que seriam mecanismos de retomada econômica, como o fim dos juros do BNDES que fomentavam a produção. O governo liquida instrumentos estratégicos, como o setor elétrico. Temer está desmontando a construção de décadas do país, indo muito além do que foi acumulado nos governos Lula e Dilma. Na política, vivemos uma crise permanente, o que é natural num governo sem qualquer legitimidade. A isso se soma a crise institucional, com um Poder questionando e interferindo no outro”, explicou.

Finalizou dizendo temer que “a crise se torne mais grave ainda. Não subestimo a inquietação que aparece nas Forças Armadas. Existe sentimento de humilhação na tropa. O alto comando do Exército realizou reunião ampliada, no Rio de Janeiro, para coesionar as tropas – coesionar em torno do quê? Temos o desafio de construir uma solução na política. Tenho convicção de que neste ambiente, que não é róseo, a resistência, a combatividade e a união são fundamentais. Sem rua, só proclamando nossos manifestos, as dificuldades vão crescer. Os sindicatos estão chamados a refletir sobre a participação política. É necessária uma representação mais qualificada dos trabalhadores no parlamento”.

Mercado com sentimento humano

Érika Kokay considerou que “a financeirização, que domina o mundo, não tem compromisso com produção e nação. A PEC do Teto, que limita os investimentos públicos no país, inclusive em saúde e educação pelos próximos 20 anos, é a demonstração de que não há projeto de nação neste governo. Ele vai vendendo o patrimônio nacional. Estamos aprisionados pela financeirização. A Câmara aprovou o texto-base da medida provisória do Refis, programa de refinanciamento de dívidas com o fisco. Vai renegociar R$ 220 bilhões, dos quais R$ 130 bi estão no sistema financeiro. Por isso, além das bancadas da bala, da bíblia e do boi, temos um quarto b no Congresso, o b dos banqueiros, do sistema financeiro”.

Ela denunciou o desinvestimento no país, lembrando que “Delfim Neto, que não é nem bolivariano e nem comunista, disse que é insana a taxa de investimento que o Brasil tem. Tudo passou a ser feito para agradar ao mercado, que agora ganhou sentimentos humanos, num dia fica nervoso, no outro fica preocupado… Para acalmar o deus mercado, sacrifiquemos os direitos trabalhistas, a aposentadoria, os serviços sociais. É esse o mote desse governo, devoto do deus mercado”.

“Vivemos em uma sociedade que estimula o consumo e não dá ao cidadão o direito de consumir. O fascismo está beijando o rosto da sociedade. Temos que denunciar o ovo da serpente. O golpe vai esgarçando o tecido dos direitos. O direito não sobrevive sem democracia. O estado nunca foi mínimo para a elite, mas sempre assim foi para o povo. Há uma destruição da política como espaço de transformação. Cresce o fundamentalismo, que tem a noite e o dia, mas não tem o anoitecer e o amanhecer, é uma lógica binária, do bem contra o mal, fascista”, afirmou.

Encerrou enfatizando que “nossas armas são a organização popular, a construção de narrativa, redes e teias para disputar conteúdo e a narrativa que aí está. Aprofundar a democracia participativa, resgatar os espaços públicos. Alerto que eleição sem Lula é fraude. Fora Temer, nenhum direito a menos!”.

Teses de diretores

Após as exposições, foram defendidas teses sobre conjuntura apresentadas pelos diretores da Contee Gilson Reis (Pontos para uma avaliação de conjuntura), Amarildo Cenci e José Jorge Maggio (Os atuais desafios do movimento sindical e o papel da Contee) – ambos disponíveis no caderno distribuído aos representantes do Consind –, Adércia Bezerra Hostin dos Santos e Allyson Queiroz Mustafa (que não as apresentaram por escrito). Por fim, foi aberta a palavra para o plenário.

Carlos Pompe

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